terça-feira, 25 de março de 2025

POR LU CANDIDO ::
Publiquei este texto em 22 de março de 2013 em um blog que eu tinha na época e já não existe mais. Como estamos nos aproximando do Dia Mundial do Transtorno Bipolar, achei que não era demais resgatá-lo. É um filme simplesmente incrível! (O filme não é novo, mas não custa avisar: contém muitos spoilers.)

Baseado no romance homônimo de Matthew Quick, foi indicado ao Oscar de 2013 em oito categorias, sendo que concorreu em todas as categorias de atuação (melhor ator, melhor atriz, melhor ator coadjuvante e melhor atriz coadjuvante), dando o prêmio de melhor atriz a Jennifer Lawrence. Também foi indicado em melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor edição.



Discordo de quem diz que O lado bom da vida é mais um enlatado hollywoodiano, mais uma comediazinha romântica. É um filme que se lê nas entrelinhas. O tema do filme é muito difícil, pesado, denso. David O. Russell conseguiu dar uma leveza impressionante. Na verdade, o filme é baseado no livro homônimo de Matthew Quick. Principalmente quem convive ou já conviveu, mas também os portadores de Transtorno Afetivo Bipolar vão me entender.

Pat Solitano (Bradley Cooper ) é um cara que um dia teve um surto ao flagrar sua mulher com o amante no chuveiro. Após arrebentar o amante quase até a morte, ele é preso e passa oito meses num hospital psiquiátrico. Lá, é diagnosticado como portador de Transtorno (afetivo) Bipolar. Isso implica usar uma medicação contínua, com efeitos colaterais indescritíveis. Engorda, incha, dá tontura, náuseas, dor de barriga e o que mais se possa imaginar.

Pat se considera normal, o que deixa evidente em suas conversas com o psicanalista. Acha o tratamento um saco e se recusa a tomar os remédios. Mas Pat está explicitamente maníaco, um dos polos da doença. O outro polo é a depressão. E é justamente com uma bipolar depressiva que ele vai dar de cara, Tiffany Maxwell (Jennifer Lawrence). Tiffany perdeu o marido num acidente e se sente culpada por isso. Ela transfere a sua dor para uma compulsão sexual. Ela transou com todos e todas colegas de trabalho até ser demitida.

Tiffany é rejeitada ao propor fazer sexo com Pat. Ele é fiel à (ex-)esposa, Nikki (Brea Bee), pra quem direciona sua suposta recuperação. O que Pat e Tiffany têm em comum? Eles vivem no passado, mas, mais do que isso, vivem para outras pessoas e não para si mesmos. Nenhum dos dois está recuperado.

Pat perde peso (parou de tomar lítio certamente) e tenta mostrar que está bem só para agradar e recuperar Nikki, pois esse era o desejo dela – não o dele. Ele quer reconquistá-la. Já Tiffany, que é mais estável, não podendo resgatar o marido, busca em outras pessoas o sexo que tinha no casamento.

Uma cena muito engraçada (pelo menos eu achei) é quando eles conversam sobre os remédios que tomam. Esta é a primeira afinidade entre os dois: lítio, seroquel, rivotril. (Aí tem um merchandising bem escancarado, porque seroquel é quetiapina, e rivotril é clonazepam.) Morri de rir!

E quando Pat insiste em encontrar a fita VHS do seu casamento na madrugada, acordando seus pais enlouquecidamente para saber onde estava? Licença: o pai é o maravilhoso Robert De Niro, e a mãe, Jacki Weaver. Ou quando acorda os pais no meio da noite para discutir Hemingway? Quem nunca fez isso? Bom, acho que cerca de 98% da população mundial nunca fez isso...

Uma metáfora interessante é que o pai associa as vitórias no futebol à presença de Pat no estádio ou na frente da TV. Aí também aparece uma possível referência à hereditariedade, uma vez que o pai usa muito mais que um controle remoto e, talvez num episódio de mania, apostou tudo num jogo.


Pat se recusa a ir ao estádio, e o time apostado continua ganhando. Ele não pode ir, pois se comprometeu com Tiffany, em troca de ela entregar uma carta a Nikki, que participaria de um concurso de dança com ela. Um dia resolve deixar o ensaio de lado, e o time perde. A associação que se faz: sempre que Pat está com Tiffany, vitória. Quando não está, derrota.

Parêntese: Pat encontra seu psiquiatra no jogo, o qual se envolve numa briga. De perto, ninguém é normal. Ou “somos todos humanos” também é uma interpretação possível.

O final pode parecer bobo, mas mostra a estabilização dos dois. Cura não existe, mas é possível ter uma vida normal (bipolares são pessoas normais que ficam loucas às vezes) com uma combinação de remédios e terapia.

Enfim, não vou entrar em detalhes sobre concurso de dança, reencontro com Nikki, nada disso. Até porque perdi a vontade de escrever. Quando sentei aqui, estava empolgadíssima e cheia de ideias. Mas agora… estou com vontade compulsiva de sair de casa. Então, deixa eu terminar logo.

Pat rompe com o passado superando Nikki e fica com Tiffany, que já estava apaixonada por ele. Os dois rompem com suas histórias fantasiosas, passam a viver para si e por si e se juntam, percebendo que não se pode viver por ninguém a não ser por si mesmo. Estão recuperados, embora não curados. Morri de chorar. Fim.


 

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