POR NOAH MACHADO ::
Nuvens esparsas sendo conduzidas levemente pelo vento podem ser vistas sem muito esforço. Logo abaixo delas, observo alguns homens negros trabalhando em uma obra. Estão construindo uma casa que, aos poucos, com o assentar dos tijolos, vai ganhando força e estrutura.
Observar o cotidiano desses trabalhadores e, ao mesmo tempo, certa calma em seu entorno (casas silenciosas, árvores quietas pela ausência de ventos, alguns latidos de cachorros, mas nada que seja suficiente para cessar a quietude do ambiente) me fazem pensar na construção de nossas vidas pelo trabalho. O silêncio das casas que observo de minha janela, na periferia, me faz me questionar: onde estão essas pessoas?
Provavelmente, nos bairros centrais da cidade, ganhando a vida pelo trabalho. Sociologicamente, o conceito de trabalho se refere ao ato de agir na natureza, transformando-a para atender às necessidades humanas. O trabalho assalariado em alguns setores não necessariamente transforma a natureza, mas possibilita que as pessoas possam prover sua existência.
Foi ele quem possibilitou que construíssemos o mundo que temos hoje e é esse mundo de hoje que faz com que este bairro esteja bastante vazio e silencioso, que faz com que as pessoas andem horas para conseguir ter a oportunidade de ganhar a sobrevivência. O silêncio e quietude que observo da minha janela me angustiam em certa medida. Vivemos em uma sociedade cheia de pressões, cheia de violência, cheia de exploração e repleta de silêncios.
Não apenas o silêncio que observo no entorno dos trabalhadores que constroem a casa – também calados, diga-se de passagem – mas o silêncio perante um modo de viver que apesar de produzir muita coisa boa, matou e mata muitas pessoas em nome do lucro.
Poderia aqui iniciar o aprofundamento de reflexões sociológicas que minha profissão me possibilita fazer. Contudo, queria falar um pouco sobre o silêncio que observo perante minha depressão e saúde. Que possui ligação com os apontamentos que fiz sobre essa sociedade, mas que ressoa como um grito de dor e socorro na mente deste sujeito que a descreve.
Silêncio, é apenas o que vejo. Tanto das pessoas que mais amo e que gostaria que me ouvissem desabafar, quanto de mim, que tenho preferido o silêncio e o isolamento em vez de colocar minhas dores na mesa e encará-las. Sei que é um desafio, que é passageiro e que tão quanto eu adiar esse momento de enfrentamento e quebra dos silêncios que tanto me incomodam, tanto tempo ou mais a cura demorará para chegar.
Contudo, ainda não consigo, tenho me sentido como se reunisse forças para fazê-lo, afinal, ousar quebrar o silêncio em um mundo onde existem tantos, exige certo preparo. Não me desiludo totalmente, não me vejo sem luz. Neste momento, em que finalmente tenho coragem de retornar à escrita e encarar minhas percepções, até escuto uma velha amiga chamar à minha porta. Pois bem, esperança, chame mais um pouco, ainda preciso me preparar para falar.
Enquanto isso, sigo observando atentamente os homens negros que constroem uma casa bem próximo à minha. Eles também representam chamados da esperança para mim… Mas isso é outra história.
Nuvens esparsas sendo conduzidas levemente pelo vento podem ser vistas sem muito esforço. Logo abaixo delas, observo alguns homens negros trabalhando em uma obra. Estão construindo uma casa que, aos poucos, com o assentar dos tijolos, vai ganhando força e estrutura.
Observar o cotidiano desses trabalhadores e, ao mesmo tempo, certa calma em seu entorno (casas silenciosas, árvores quietas pela ausência de ventos, alguns latidos de cachorros, mas nada que seja suficiente para cessar a quietude do ambiente) me fazem pensar na construção de nossas vidas pelo trabalho. O silêncio das casas que observo de minha janela, na periferia, me faz me questionar: onde estão essas pessoas?
Provavelmente, nos bairros centrais da cidade, ganhando a vida pelo trabalho. Sociologicamente, o conceito de trabalho se refere ao ato de agir na natureza, transformando-a para atender às necessidades humanas. O trabalho assalariado em alguns setores não necessariamente transforma a natureza, mas possibilita que as pessoas possam prover sua existência.
Foi ele quem possibilitou que construíssemos o mundo que temos hoje e é esse mundo de hoje que faz com que este bairro esteja bastante vazio e silencioso, que faz com que as pessoas andem horas para conseguir ter a oportunidade de ganhar a sobrevivência. O silêncio e quietude que observo da minha janela me angustiam em certa medida. Vivemos em uma sociedade cheia de pressões, cheia de violência, cheia de exploração e repleta de silêncios.
Não apenas o silêncio que observo no entorno dos trabalhadores que constroem a casa – também calados, diga-se de passagem – mas o silêncio perante um modo de viver que apesar de produzir muita coisa boa, matou e mata muitas pessoas em nome do lucro.
Poderia aqui iniciar o aprofundamento de reflexões sociológicas que minha profissão me possibilita fazer. Contudo, queria falar um pouco sobre o silêncio que observo perante minha depressão e saúde. Que possui ligação com os apontamentos que fiz sobre essa sociedade, mas que ressoa como um grito de dor e socorro na mente deste sujeito que a descreve.
Silêncio, é apenas o que vejo. Tanto das pessoas que mais amo e que gostaria que me ouvissem desabafar, quanto de mim, que tenho preferido o silêncio e o isolamento em vez de colocar minhas dores na mesa e encará-las. Sei que é um desafio, que é passageiro e que tão quanto eu adiar esse momento de enfrentamento e quebra dos silêncios que tanto me incomodam, tanto tempo ou mais a cura demorará para chegar.
Contudo, ainda não consigo, tenho me sentido como se reunisse forças para fazê-lo, afinal, ousar quebrar o silêncio em um mundo onde existem tantos, exige certo preparo. Não me desiludo totalmente, não me vejo sem luz. Neste momento, em que finalmente tenho coragem de retornar à escrita e encarar minhas percepções, até escuto uma velha amiga chamar à minha porta. Pois bem, esperança, chame mais um pouco, ainda preciso me preparar para falar.
Enquanto isso, sigo observando atentamente os homens negros que constroem uma casa bem próximo à minha. Eles também representam chamados da esperança para mim… Mas isso é outra história.
Noah Machado é Cientista Social, um tanto maluquinh@ e piadista. Escreve reflexões sobre saúde mental e desafios e aprendizados do ser soropositivo.
0 comentários:
Postar um comentário