
Assistindo, pela enésima vez, na Sessão da Tarde, um filme da saga dos “X-Men”, deparei-me com uma interessante reflexão: e se a causa das minorias (que nem são tão minorias assim) fosse, realmente, a causa defendida por quem está no poder?
O vilão, Magneto, construiu uma máquina para transformar todas as autoridades da ONU, que estavam reunidas numa conferência em Nova Iorque, em mutantes. Perguntado sobre o porquê de sua façanha, respondeu: “Imagine que amanhã todos os líderes mundiais acordem mutantes como nós. Aí sim a nossa causa seria a deles” (mais ou menos isso, não recordo das palavras exatas).
E foi, então, que uma frase solta de um filme para lá de repetido me fez imaginar: e se amanhã todos os nossos governantes acordassem pobres, ou negros, ou índios, ou homossexuais? Simplesmente abrissem os olhos pela manhã e estivessem no lugar daquela mãe-solo, que rala para criar seus filhos, ou no lugar daquele cara negro, trabalhador, que mora numa periferia ou morro qualquer e sai de casa sem saber se voltará vivo, que, muitas vezes, é revistado (isso para usar uma palavra leve) porque tem “perfil suspeito”.
Acordassem numa reserva indígena minúscula, que os invasores ainda acham grande demais, perdendo seu espaço, sua cultura e sua liberdade, dia após dia, ou no lugar daquele dependente do SUS, que tem de enfrentar uma enorme fila na madrugada para marcar uma consulta para, quem sabe, dali um mês ou dois.
Acordassem homossexuais num país onde não são reconhecidos, nem respeitados, nem tratados com a mínima dignidade, onde são maltratados, massacrados e assassinados apenas por se atreverem a ser eles mesmos.
Tudo isso, porém, sem perderem o cargo nem o poder, apenas caindo de paraquedas naquela realidade lascada que eles sabem que existe, mas não fazem ideia do que seja viver nela.
É lógico que não passa de uma fantasia, mas nessa sociedade desumana, apelar para a empatia de poderosos e obter um resultado positivo é quase tão fantasioso quanto.
Um choque de realidade é mesmo uma boa pedida. Mas lamento por não podermos obrigar essa gente a passar o mês com um salário mínimo, só para começar...
Ainda bem que imaginar ainda não paga imposto, pois a imaginação ajuda a amenizar a dureza da vida. Porém a luta por um mundo mais justo deve ser real.
Camila Pedroso é uma dona de casa que pretende ser escritora e tem muito a dizer. Aos 40, está numa fase de desconstrução e revisão de conceitos. Amante das artes, seus textos e poesias refletem sua constante transformação.
Camila que bom ver você por aqui com seus textos simples, mas cheios da nossa realidade.
ResponderExcluirVá sempre em frente!
Parabéns!!!