POR LU CANDIDO ::
Eu sempre bato na mesma tecla. Chego a ser chata, mas vou continuar fazendo isso: tratamento em primeiro lugar – não confundir com medicalização de sentimentos. Hoje eu vou falar sobre medicação, de paciente para paciente, ou seja, vai ter coisas que talvez seu médico não aprove: consulte-o.
Não costumo detalhar este fato da minha vida, mas vou abrir para vocês. Estou com a minha caixinha de comprimidos aqui na mão, porque até hoje não sei de cor. Nem quero saber. Imagina se, além de ter que tomar tudo isso, ainda tiver que ficar pensando o dia todo em quantos e quando eu tenho que tomar.
São 12 comprimidos de sete medicamentos diferentes distribuídos ao longo do dia. Uso alarmes no celular. Dois comprimidos, na verdade, são vitaminas do complexo B. Elas compensam um pouco o efeito dos outros remédios. Não são essenciais, mas ajudam. Tomo as duas pela manhã, junto com um antidepressivo e um regulador de humor auxiliar. Na hora do almoço, repito os dois comprimidos sem as vitaminas.
À noite, é a vez do meu preferido e o que mais me provoca desconforto, o lítio. É o principal regulador de humor descoberto até hoje. O lítio é tão legal que já virou música e já foi usado em refrigerante no início do século 20. Vou escrever um artigo só sobre ele em breve. Junto, tomo o terceiro daquele regulador de humor auxiliar e outro para problemas alimentares.
Além desses, tem um que está acabando, prescrito pelo neurologista por conta de uma amnésia global temporária que tive uns meses atrás. Eventualmente, eu tomo clonazepam, o famoso Rivotril. Já fui dependente – evitem isso, crianças. Consegui ficar limpa, e hoje o tenho só como remédio de emergência. Tomo ¼ ou ½ muito raramente, em caso de insônia desesperadora.
Dizendo assim, parece fácil, né? Não, não é. Engordei, minhas mãos tremem, minha visão fica borrada entre 22h e meia-noite, tenho vertigem, meus lábios formigam, minha boca fica seca, às vezes sinto gosto de metal, tenho que fazer controle do lítio, o que significa fazer um exame de sangue a cada seis meses, já tive intoxicação de lítio.
Dizendo assim, parece horrível, né? Não, também não é. Não sinto isso o tempo todo nem tudo ao mesmo tempo. Não é fácil, mas não é insuportável.
Esses tempos, abri a caixinha pela manhã e tive vontade de jogar tudo para cima, tipo confetes, meu carnaval particular. Eu me senti exausta dessa rotina, não era nem dos efeitos colaterais em si. Então, fechei a caixinha, deixei de lado e, com uma hora de atraso, tomei todos eles e não atrasei mais depois disso. Foi uma hora chorando e me lembrando do que ia acontecer se eu largasse tudo. Eu sabia que não ia largar. Nunca vou.
Preciso assumir aqui que não tenho um comportamento exatamente adequado, inclusive para não assustar ninguém. Além disso, cada pessoa reage de uma forma diferente à medicação. É perfeitamente possível ficar melhor que isso. De qualquer forma, estou mudando alguns hábitos que influenciam diretamente na produção de substâncias químicas no cérebro e na eliminação dos medicamentos. Inclusive, isso serve para qualquer pessoa.
Mesmo sendo coisas simples, nem sempre é fácil de se fazer. Não tenho o hábito de tomar água pura, por exemplo, mas comecei a deixar uma garrafinha de 500mL ao lado do computador e me asseguro de enchê-la quatro vezes ao dia pelo menos. A boca seca ajuda. Quando não desce mesmo, engano com chá ou suco (às vezes refrigerante, confesso, mas não recomendo).
Comecei academia. Fico lá no aparelho, olhando pra parede, pensando “o que eu fiz de errado?” Depois que já se está lá, tudo bem. O problema é levantar da cama, se vestir, ir até lá. Pior que o negócio fica a dois minutos da minha casa, exatamente, quase em frente. Pois é, a gente tem que fazer coisas que não gosta.
A questão do peso é algo que preocupa a maioria das pessoas. Só para tranquilizar, engordei porque tive um episódio depressivo meio longo (não chegou a ser uma criiiise), amnésia, estresse, enfim, uma confusão na minha vida. O lítio foi um fator importante, mas, sabendo que podia engordar, não me cuidei. Além disso, tenho problemas alimentares desde que nasci, para mais e para menos. Não sou parâmetro.
Estou mantendo uma rotina alimentar. Troquei as porcarias por coisas parecidas, já que o negócio era ter alguma coisa para mastigar. Dica: pipoca, de preferência de pipoqueira, que não vai óleo, ou uma receita de micro-ondas que eu conheço, que também é sem óleo (pode pedir a receita nos comentários). Mesmo quando não estou com fome ou estou com preguiça de comer, como uma fruta ou qualquer coisa que não precise descascar, desembalar ou coisa do gênero. Isso tudo em intervalos regulares.
Por fim, descobri a maravilha que é dormir bem. Limitei o número de episódios daquela série e, a certa hora, me empurro para fora do sofá. Vou para cama com um livro, que eu leio com uma lanterna, e isso me dá sono por algum motivo desconhecido. Celular no silencioso.
Tem outras coisas, podemos trocar ideias. Vou adorar, porque ainda preciso melhorar muito.
Eu ainda vou chorar, espernear, sentir raiva. Eu tenho esse direito, porque eu não escolhi ter esta porcaria de doença. Eu não preciso me conformar, ninguém precisa se acomodar com uma coisa dessas. Mas ela está aí, e eu tenho que lutar contra ela todos os dias ou ela me destrói. Não posso ser eu a me destruir. Escolher sofrer não faz mais parte da minha vida.
Revisado em 10/11/2018 sem alteração de conteúdo
Para quem está chegando agora, tenho transtorno bipolar e tenho uma vida até onde a realidade me permite. Levo tratamento muito a sério e costumo dizer que a medicação e a terapia não vivem uma sem a outra, e o paciente não vive sem as duas. A troca de experiências entre nós é muito importante e saudável, fundamental eu diria, mas nunca deixe de procurar ajuda profissional.
Eu sempre bato na mesma tecla. Chego a ser chata, mas vou continuar fazendo isso: tratamento em primeiro lugar – não confundir com medicalização de sentimentos. Hoje eu vou falar sobre medicação, de paciente para paciente, ou seja, vai ter coisas que talvez seu médico não aprove: consulte-o.
Não costumo detalhar este fato da minha vida, mas vou abrir para vocês. Estou com a minha caixinha de comprimidos aqui na mão, porque até hoje não sei de cor. Nem quero saber. Imagina se, além de ter que tomar tudo isso, ainda tiver que ficar pensando o dia todo em quantos e quando eu tenho que tomar.
São 12 comprimidos de sete medicamentos diferentes distribuídos ao longo do dia. Uso alarmes no celular. Dois comprimidos, na verdade, são vitaminas do complexo B. Elas compensam um pouco o efeito dos outros remédios. Não são essenciais, mas ajudam. Tomo as duas pela manhã, junto com um antidepressivo e um regulador de humor auxiliar. Na hora do almoço, repito os dois comprimidos sem as vitaminas.
À noite, é a vez do meu preferido e o que mais me provoca desconforto, o lítio. É o principal regulador de humor descoberto até hoje. O lítio é tão legal que já virou música e já foi usado em refrigerante no início do século 20. Vou escrever um artigo só sobre ele em breve. Junto, tomo o terceiro daquele regulador de humor auxiliar e outro para problemas alimentares.
Além desses, tem um que está acabando, prescrito pelo neurologista por conta de uma amnésia global temporária que tive uns meses atrás. Eventualmente, eu tomo clonazepam, o famoso Rivotril. Já fui dependente – evitem isso, crianças. Consegui ficar limpa, e hoje o tenho só como remédio de emergência. Tomo ¼ ou ½ muito raramente, em caso de insônia desesperadora.
Dizendo assim, parece fácil, né? Não, não é. Engordei, minhas mãos tremem, minha visão fica borrada entre 22h e meia-noite, tenho vertigem, meus lábios formigam, minha boca fica seca, às vezes sinto gosto de metal, tenho que fazer controle do lítio, o que significa fazer um exame de sangue a cada seis meses, já tive intoxicação de lítio.
Dizendo assim, parece horrível, né? Não, também não é. Não sinto isso o tempo todo nem tudo ao mesmo tempo. Não é fácil, mas não é insuportável.
Esses tempos, abri a caixinha pela manhã e tive vontade de jogar tudo para cima, tipo confetes, meu carnaval particular. Eu me senti exausta dessa rotina, não era nem dos efeitos colaterais em si. Então, fechei a caixinha, deixei de lado e, com uma hora de atraso, tomei todos eles e não atrasei mais depois disso. Foi uma hora chorando e me lembrando do que ia acontecer se eu largasse tudo. Eu sabia que não ia largar. Nunca vou.
Preciso assumir aqui que não tenho um comportamento exatamente adequado, inclusive para não assustar ninguém. Além disso, cada pessoa reage de uma forma diferente à medicação. É perfeitamente possível ficar melhor que isso. De qualquer forma, estou mudando alguns hábitos que influenciam diretamente na produção de substâncias químicas no cérebro e na eliminação dos medicamentos. Inclusive, isso serve para qualquer pessoa.
Mesmo sendo coisas simples, nem sempre é fácil de se fazer. Não tenho o hábito de tomar água pura, por exemplo, mas comecei a deixar uma garrafinha de 500mL ao lado do computador e me asseguro de enchê-la quatro vezes ao dia pelo menos. A boca seca ajuda. Quando não desce mesmo, engano com chá ou suco (às vezes refrigerante, confesso, mas não recomendo).
Comecei academia. Fico lá no aparelho, olhando pra parede, pensando “o que eu fiz de errado?” Depois que já se está lá, tudo bem. O problema é levantar da cama, se vestir, ir até lá. Pior que o negócio fica a dois minutos da minha casa, exatamente, quase em frente. Pois é, a gente tem que fazer coisas que não gosta.
A questão do peso é algo que preocupa a maioria das pessoas. Só para tranquilizar, engordei porque tive um episódio depressivo meio longo (não chegou a ser uma criiiise), amnésia, estresse, enfim, uma confusão na minha vida. O lítio foi um fator importante, mas, sabendo que podia engordar, não me cuidei. Além disso, tenho problemas alimentares desde que nasci, para mais e para menos. Não sou parâmetro.
Estou mantendo uma rotina alimentar. Troquei as porcarias por coisas parecidas, já que o negócio era ter alguma coisa para mastigar. Dica: pipoca, de preferência de pipoqueira, que não vai óleo, ou uma receita de micro-ondas que eu conheço, que também é sem óleo (pode pedir a receita nos comentários). Mesmo quando não estou com fome ou estou com preguiça de comer, como uma fruta ou qualquer coisa que não precise descascar, desembalar ou coisa do gênero. Isso tudo em intervalos regulares.
Por fim, descobri a maravilha que é dormir bem. Limitei o número de episódios daquela série e, a certa hora, me empurro para fora do sofá. Vou para cama com um livro, que eu leio com uma lanterna, e isso me dá sono por algum motivo desconhecido. Celular no silencioso.
Tem outras coisas, podemos trocar ideias. Vou adorar, porque ainda preciso melhorar muito.
Eu ainda vou chorar, espernear, sentir raiva. Eu tenho esse direito, porque eu não escolhi ter esta porcaria de doença. Eu não preciso me conformar, ninguém precisa se acomodar com uma coisa dessas. Mas ela está aí, e eu tenho que lutar contra ela todos os dias ou ela me destrói. Não posso ser eu a me destruir. Escolher sofrer não faz mais parte da minha vida.
Revisado em 10/11/2018 sem alteração de conteúdo
Para quem está chegando agora, tenho transtorno bipolar e tenho uma vida até onde a realidade me permite. Levo tratamento muito a sério e costumo dizer que a medicação e a terapia não vivem uma sem a outra, e o paciente não vive sem as duas. A troca de experiências entre nós é muito importante e saudável, fundamental eu diria, mas nunca deixe de procurar ajuda profissional.
Que orgulho de você! tá se cuidando mais do que alguém que não tenha a bipolaridade :)
ResponderExcluirNega! Como fico feliz em te ver por aqui, ver que você ainda me lê :) Muita saudade! Pode deixar, vou me cuidar sempre. Por mim e pelas pessoas com quem me importo. Você é uma delas <3
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