POR CAMILA PEDROSO::
Antes que alguém queira brigar comigo, achando que estou brincando com um assunto sério, quero dizer que não se trata de nada disso.
Fui buscar o significado literal do prefixo “trans” e também não tem nada a ver com o que eu estava pensando: “trans é um prefixo que dá a ideia de ‘depois’ ou ‘através de’.” (Dicionário inFormal, Google).
Estava pensando no sentido de ser alguém diferente, por dentro, daquilo que a gente se tornou por fora. Seja por circunstâncias da vida ou por escolhas equivocadas. E de uma coisa eu tenho suspeitado: nasci artista em corpo de dona de casa. Espírito livre condicionada a um corpo de Amélia! Só pode ser isso!
Sempre amei as artes, todas elas. Fui uma criança estudiosa, curiosa e criativa. Cantava, dançava, fazia teatrinho na escola. Depois comecei a escrever. Escrevia redações, versinhos, criava os teatros (escrevia, dirigia e encenava!). Cheguei até a montar um livro de poesias.
Conversava sobre tudo, e na adolescência me achava bem politizada (fui cara pintada, fora Collor, essas coisas...). Sabia que era inteligente e gostava de me cercar de pessoas que alimentassem, ou melhor, que instigassem meus neurônios.
Mas em alguma esquina da vida (que eu ainda não identifiquei), certamente fiz a curva para o lado errado. E quando me dei conta, não havia mais teatro, nem música, nem dança, nem livros... Somente fraldas, mamadeiras, choro de criança, roupas para lavar, casa para limpar... E eu ali... Completamente perdida no meio de tudo aquilo!
Fui me adaptando por questão de sobrevivência, não só minha como das minhas filhas também. E em relação à maternidade, acredito que não sou das piores, afinal, minhas filhas dizem que eu sou “a melhor mãe do mundo”. Quem sou eu para contrariá-las?
Porém não existe nada mais maçante para mim do que o serviço doméstico! Simplesmente detesto! E pior ainda é a obrigação de fazer. É algo exaustivo e que nunca acaba! Pensar no que terei que cozinhar para o almoço de amanhã, prestar atenção na previsão do tempo para me certificar de que vai dar para lavar as roupas, fazer lista de compras e estar sempre informada sobre os preços do feijão e do sabão em pó...
Todas essas coisas “brocham” o meu cérebro!
Já me disseram que isso é coisa de mulher preguiçosa, coisa de mulher relaxada, que eu devia ser mais caprichosa... Já me disseram até que “estas coisas” que eu gosto são supérfluas, são bobagens que não me levarão a lugar nenhum.
Já chorei sentada no meio da bagunça, sem forças, sem saber por onde começar e me sentindo culpada por não gostar de cuidar de uma casa. Afinal, toda mulher gosta, não é?!
Não. Não é.
Tenho ouvido, lido e estudado mulheres maravilhosas, algumas não fazem ideia da revolução que têm causado na minha vida.
Claro que ainda tenho que cuidar da minha casa, mas já não é tão pesado como antes. E continuo não gostando, mas já não sinto culpa por isso.
Tenho procurado introduzir a cultura e as artes de volta à minha vida. Voltei a escrever, por exemplo, e meus neurônios me agradecem por isso.
Não preciso ser uma coisa só. Muito pelo contrário! Eu posso ser tudo o que eu quiser!
E essa é a maravilha de ser mulher: todas nós podemos ser tudo o que quisermos!
Camila Pedroso é uma dona de casa que pretende ser escritora e tem muito a dizer. Aos 40, está numa fase de desconstrução e revisão de conceitos. Amante das artes, seus textos e poesias refletem sua constante transformação.
Antes que alguém queira brigar comigo, achando que estou brincando com um assunto sério, quero dizer que não se trata de nada disso.
Fui buscar o significado literal do prefixo “trans” e também não tem nada a ver com o que eu estava pensando: “trans é um prefixo que dá a ideia de ‘depois’ ou ‘através de’.” (Dicionário inFormal, Google).
Estava pensando no sentido de ser alguém diferente, por dentro, daquilo que a gente se tornou por fora. Seja por circunstâncias da vida ou por escolhas equivocadas. E de uma coisa eu tenho suspeitado: nasci artista em corpo de dona de casa. Espírito livre condicionada a um corpo de Amélia! Só pode ser isso!
Sempre amei as artes, todas elas. Fui uma criança estudiosa, curiosa e criativa. Cantava, dançava, fazia teatrinho na escola. Depois comecei a escrever. Escrevia redações, versinhos, criava os teatros (escrevia, dirigia e encenava!). Cheguei até a montar um livro de poesias.
Conversava sobre tudo, e na adolescência me achava bem politizada (fui cara pintada, fora Collor, essas coisas...). Sabia que era inteligente e gostava de me cercar de pessoas que alimentassem, ou melhor, que instigassem meus neurônios.
Mas em alguma esquina da vida (que eu ainda não identifiquei), certamente fiz a curva para o lado errado. E quando me dei conta, não havia mais teatro, nem música, nem dança, nem livros... Somente fraldas, mamadeiras, choro de criança, roupas para lavar, casa para limpar... E eu ali... Completamente perdida no meio de tudo aquilo!
Fui me adaptando por questão de sobrevivência, não só minha como das minhas filhas também. E em relação à maternidade, acredito que não sou das piores, afinal, minhas filhas dizem que eu sou “a melhor mãe do mundo”. Quem sou eu para contrariá-las?
Porém não existe nada mais maçante para mim do que o serviço doméstico! Simplesmente detesto! E pior ainda é a obrigação de fazer. É algo exaustivo e que nunca acaba! Pensar no que terei que cozinhar para o almoço de amanhã, prestar atenção na previsão do tempo para me certificar de que vai dar para lavar as roupas, fazer lista de compras e estar sempre informada sobre os preços do feijão e do sabão em pó...
Todas essas coisas “brocham” o meu cérebro!
Já me disseram que isso é coisa de mulher preguiçosa, coisa de mulher relaxada, que eu devia ser mais caprichosa... Já me disseram até que “estas coisas” que eu gosto são supérfluas, são bobagens que não me levarão a lugar nenhum.
Já chorei sentada no meio da bagunça, sem forças, sem saber por onde começar e me sentindo culpada por não gostar de cuidar de uma casa. Afinal, toda mulher gosta, não é?!
Não. Não é.
Tenho ouvido, lido e estudado mulheres maravilhosas, algumas não fazem ideia da revolução que têm causado na minha vida.
Claro que ainda tenho que cuidar da minha casa, mas já não é tão pesado como antes. E continuo não gostando, mas já não sinto culpa por isso.
Tenho procurado introduzir a cultura e as artes de volta à minha vida. Voltei a escrever, por exemplo, e meus neurônios me agradecem por isso.
Não preciso ser uma coisa só. Muito pelo contrário! Eu posso ser tudo o que eu quiser!
E essa é a maravilha de ser mulher: todas nós podemos ser tudo o que quisermos!
Camila Pedroso é uma dona de casa que pretende ser escritora e tem muito a dizer. Aos 40, está numa fase de desconstrução e revisão de conceitos. Amante das artes, seus textos e poesias refletem sua constante transformação.
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