segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Por que sou paciente? Tenho Transtorno Afetivo Bipolar, a antiga doença maníaco-depressiva, mas também porque é preciso ter paciência para viver sempre as mesmas coisas e esperar que tudo passe.



A primeira coisa que é preciso saber é que não sou bipolar. Esse é um dos erros mais básicos que a maioria das pessoas comete, inclusive nós, os doentes: não SOMOS bipolares, não somos a doença. Somos portadores de um transtorno não muito raro.

Também acho bom dizer logo de cara que não estou num momento muito bom. Sou um ser extrema e contraditoriamente sociável atravessando uma crise financeira de proporções razoáveis, o que me levou a, de uma hora para a outra, não ter mais vida social. Além disso, tive problemas no passado relacionados a dinheiro e TAB. Acabo revivendo algumas coisas sem querer e fico meio estranha. Não devo ser a única.

Retomando. Sou mulher. Gosto de música, futebol, livros, dançar, botecos, amigos novos e antigos, viajar (coisa que faço quase nunca), séries, filmes, ficção científica, astronomia. Bem-humorada fingindo ser ranzinza, rainha das piadas nerds e sem graça, preguiçosa, resmungona. Por fora, uma pessoa normal. Um pouco mais desastrada que o normal pra dizer a verdade. Minha idade não é relevante agora: isso vai fazer sentido mais adiante. Não tenho problema nenhum com a quantidade de anos em que estou sobre a terra. Muitos deles, inclusive, eu desejei estar embaixo dela.

Já engordei e emagreci algumas vezes: tenho uma relação complicada com a comida. Comecei a ter cabelos brancos recentemente. Minha coluna travou no final do ano passado, 5 de novembro de 2016 para ser exata. Isso está me rendendo sessões semanais de RPG, diárias de fisioterapia e uma dor que não foi embora desde aquele dia. É o preço a pagar por uma vida louca e sedentária.

Tenho rugas. Tem umas horizontais na testa que me lembram das preocupações que tive na vida. Entre as sobrancelhas, há um vinco bem marcado. Chamam de “ruga da dor” é característica da expressão que se forma quando choramos. Mas as que mais gosto são as que chamamos de “pé de galinha” e aquelas que ficam em diagonal entre o nariz e as pontas dos lábios. São muitas! Essas lembram que eu já ri e sorri muito ao longo destas décadas.

Já fumei, parei, fumei, parei. Atualmente, não fumo. Já tem um tempo. Está bem, às vezes, quando bebo, fumo uns cigarros. É, eu bebo. Nenhuma surpresa, né? Não bebo tanto quanto antigamente, mas mais do que deveria. Desde que comecei a beber, aos 14 anos mais ou menos, já tomei alguns porres fenomenais. Uns renderam história de morrer de rir. Outros foram lastimáveis e deprimentes. Alguns, inclusive, foram o gatilho para a fase depressiva. Muitas vezes, foram a transição da mania para a depressão.

Para minha sorte, nunca me atraí por outras drogas além de álcool e cigarro. Até já provei algumas. Se eu tivesse seguido à risca as tendências de quem tem distúrbios psicoemocionais às dependências, estaria ferrada, porque não teria a mínima condição de bancar. Não quer dizer que eu não use drogas. Se lítio, bupropiona, lamotrigina e clonazepam, tudo isso num dia só todos os dias da minha vida, não são drogas, então não sei o que é. E são caras. Não posso reclamar, elas vêm me mantendo viva. Evidentemente, sem a terapia – uma vez por semana – isso não funcionaria.

Às vezes, tenho insônia mesmo com o clonazepam. Frequentemente, acordo no meio da noite com a cabeça a mil. Escrevo textos inteiros em pensamento, penso em discursos que eu faria se não tivesse fobia social (tenho pânico só de pensar em falar em público), tenho vontade de levantar e fazer faxina, começar a ler um livro, fazer tricô. E já fiz isso, acredite. De qualquer forma, com ou sem insônia, tenho uma dificuldade enorme para acordar. Posso dormir, tranquilamente, de 12 a 15 horas direto.

Tem dias que estou cheia de ideias. Invento mil coisas pra fazer, me comprometo com prazos, dou ideias no trabalho e, no dia seguinte, passou. Simplesmente bloqueio. Aí começo a procrastinar. Na sequência, vem uma culpa enorme, um estado de letargia, mais culpa. Estou aprendendo a trabalhar isso, a controlar meus impulsos e guardá-los na minha cabecinha até ter certeza de que não são apenas meteoros que passam por mim a uma velocidade estonteante e somem.

E quando eu invento de fazer alguma coisa e me arrependo no meio do negócio? Faxina, por exemplo, quando já está tudo de pernas pro ar, cheio de água e sabão. Ah! Isso lembrou que tenho uma característica pouco comum: sou organizada, contrariando todas as estatísticas. Eu digo que quando as coisas ao meu redor estão bagunçadas é por uma destas razões: ou estou deprimida e não tive energia para arrumar, ou não tive tempo de arrumar e vou ficar deprimida por isso. Tem gente que diz que é TOC (é o mesmo que sair por aí chamando de bipolar todo mundo que muda de humor ou de ideia). Eu digo que é mecanismo de defesa. Outra hora explico como se faz.

Como o nome da página sugere, escolhi a profissão errada e tenho que conviver com a frustração ou driblá-la. Tenho ficado com a segunda opção. E por aí vai. Acho que minha loucura começou no momento em que saí da barriga da minha mãe. Teria milhares de outras coisas pra falar, mas estou começando a me dispersar: estou pensando no novo episódio de Better Call Saul que saiu hoje.


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