Hoje foi um daqueles dias difíceis. Não que eu já não tenha tido dias muito piores. Depois de quatro anos sem crise, passando e superando todas as adversidades, ela voltou.
Prefiro dizer que está voltando. Os sintomas são claros. Estes anos todos com esta doença me fizeram perceber a diferença entre dias ruins e dias de transtorno.
Hoje acordei e não saí da cama. Não consegui. Foi mais forte que eu. Agora são 20h30, e faz apenas umas duas horas que saí do quarto. Quando deu o horário limite para eu ir trabalhar, cheguei a levantar. Doeu. Dói mesmo, fisicamente: o corpo pesa, você se arrasta, cada músculo e articulação parece estar sendo esmagado.
Não deu. Tive pânico só de pensar em ter que ver gente (ou melhor, ser vista), interagir com outras pessoas. Aliás, não queria interagir nem virtualmente. Voltei pra cama. Senti vergonha. Aos poucos, fui lembrando que sou veterana nesta coisa. Entendi meu limite e disse pra mim mesma que hoje não ia forçar a barra. Amanhã, talvez.
Disse no trabalho que tinha comido alguma coisa que não caiu bem e que estava passando mal e vomitando. Não quero que ninguém saiba que uma crise está chegando. Uma das características mais nefastas da doença mental é o preconceito que temos com a gente mesma.
Só que desta vez tem outra coisa: eu quero impedir esta crise. Sequer cogito chegar no fundo do poço como das outras vezes. Ela vai ter que ir embora logo. Talvez fazer este diário tenha sido um primeiro passo para retomar o controle.
Os sintomas
Começou faz umas duas ou três semanas eu acho. Cansaço, sono 24 horas por dia, vontade de não fazer absolutamente nada, concentração prejudicada, falta de criatividade (eu trabalho escrevendo), somatizações. Há uns dez dias mais ou menos, fiquei sem voz por quase uma semana.
A coisa foi gradualmente aumentando até que tive um surto num sábado à noite depois de beber. Magoei uma pessoa querida, mudei completamente de personalidade.
A bebida é uma grande inimiga. Ela vive de nos prender em armadilhas. Não consigo controlar minha vontade de beber nessas situações. Outra característica: nós, portadores de transtornos dr humor, temos uma forte tendência ao uso abusivo de substâncias químicas e à dependência. Eu estou no nível do consumo abusivo ainda.
Sobre hoje, fiquei na cama dormindo e acordando até umas 18h30. Mexia no celular de vez em quando. Via as mensagens chegando e não me animava a responder. Lá pelas 17h30 mais ou menos, respondi a uma mensagem me comprometendo com uma tarefa. Não tinha mais volta. Não, eu não ia tocar o foda-se.
Então levantei, liguei o computador e fiz minha tarefa. Com o computador ligado, tive a ideia de criar uma página no Facebook e passar a registrar cada passo desta minha saga chamada vida. É... a vida às vezes é um fardo pesado demais para se carregar.
Aos pouquinhos, estou reagindo. Minha irmã está passando uns dias comigo e passou o dia fora hoje. Fiquei sozinha, o que de certa forma foi necessário no fim das contas. A volta dela foi importante: quase saí para a rua para encontrá-la no caminho do supermercado até em casa e ajudá-la com as compras.
Cheguei a sair do apartamento, mas quando estava na porta do prédio, pronta para sair, ela estava chegando. Confesso que me deu um alívio grande. Estamos preparando algo pra comer e vamos ver série. American Horror Story. Estamos terminando a segunda temporada. Tomar banho já é um nível acima. Amanhã.
Parece muito pouco, mas, mesmo com toda essa merda, sinto que tive uma pequena vitória hoje e comemorei o fato aparentemente ridículo de ter saído da cama.
Esta nota foi escrita na noite do dia 20 de outubro de 2016, uma quinta-feira.
Prefiro dizer que está voltando. Os sintomas são claros. Estes anos todos com esta doença me fizeram perceber a diferença entre dias ruins e dias de transtorno.
Hoje acordei e não saí da cama. Não consegui. Foi mais forte que eu. Agora são 20h30, e faz apenas umas duas horas que saí do quarto. Quando deu o horário limite para eu ir trabalhar, cheguei a levantar. Doeu. Dói mesmo, fisicamente: o corpo pesa, você se arrasta, cada músculo e articulação parece estar sendo esmagado.
Não deu. Tive pânico só de pensar em ter que ver gente (ou melhor, ser vista), interagir com outras pessoas. Aliás, não queria interagir nem virtualmente. Voltei pra cama. Senti vergonha. Aos poucos, fui lembrando que sou veterana nesta coisa. Entendi meu limite e disse pra mim mesma que hoje não ia forçar a barra. Amanhã, talvez.
Disse no trabalho que tinha comido alguma coisa que não caiu bem e que estava passando mal e vomitando. Não quero que ninguém saiba que uma crise está chegando. Uma das características mais nefastas da doença mental é o preconceito que temos com a gente mesma.
Só que desta vez tem outra coisa: eu quero impedir esta crise. Sequer cogito chegar no fundo do poço como das outras vezes. Ela vai ter que ir embora logo. Talvez fazer este diário tenha sido um primeiro passo para retomar o controle.
Os sintomas
Começou faz umas duas ou três semanas eu acho. Cansaço, sono 24 horas por dia, vontade de não fazer absolutamente nada, concentração prejudicada, falta de criatividade (eu trabalho escrevendo), somatizações. Há uns dez dias mais ou menos, fiquei sem voz por quase uma semana.
A coisa foi gradualmente aumentando até que tive um surto num sábado à noite depois de beber. Magoei uma pessoa querida, mudei completamente de personalidade.
A bebida é uma grande inimiga. Ela vive de nos prender em armadilhas. Não consigo controlar minha vontade de beber nessas situações. Outra característica: nós, portadores de transtornos dr humor, temos uma forte tendência ao uso abusivo de substâncias químicas e à dependência. Eu estou no nível do consumo abusivo ainda.
Sobre hoje, fiquei na cama dormindo e acordando até umas 18h30. Mexia no celular de vez em quando. Via as mensagens chegando e não me animava a responder. Lá pelas 17h30 mais ou menos, respondi a uma mensagem me comprometendo com uma tarefa. Não tinha mais volta. Não, eu não ia tocar o foda-se.
Então levantei, liguei o computador e fiz minha tarefa. Com o computador ligado, tive a ideia de criar uma página no Facebook e passar a registrar cada passo desta minha saga chamada vida. É... a vida às vezes é um fardo pesado demais para se carregar.
Aos pouquinhos, estou reagindo. Minha irmã está passando uns dias comigo e passou o dia fora hoje. Fiquei sozinha, o que de certa forma foi necessário no fim das contas. A volta dela foi importante: quase saí para a rua para encontrá-la no caminho do supermercado até em casa e ajudá-la com as compras.
Cheguei a sair do apartamento, mas quando estava na porta do prédio, pronta para sair, ela estava chegando. Confesso que me deu um alívio grande. Estamos preparando algo pra comer e vamos ver série. American Horror Story. Estamos terminando a segunda temporada. Tomar banho já é um nível acima. Amanhã.
Parece muito pouco, mas, mesmo com toda essa merda, sinto que tive uma pequena vitória hoje e comemorei o fato aparentemente ridículo de ter saído da cama.
Esta nota foi escrita na noite do dia 20 de outubro de 2016, uma quinta-feira.
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