segunda-feira, 17 de setembro de 2018


POR LU CANDIDO :: 
Não, não é uma metáfora. Tampouco uma frase de efeito. É isso mesmo que você leu: eu estou morrendo. Eu mesma. De verdade. Se você não gosta de mim, se está aí desejando coisas ruins, esse texto não é para você. Não continue lendo, não perca seu tempo, porque tempo é algo muito precioso para ser gasto em coisas que não nos acrescentam.




Do contrário, peço que tente ler até o final. Se não der, se achar chato, se estiver sem tempo... Tudo bem, não vou ficar chateada. Como eu disse tempo é precioso. É longo, vou avisando. Não quero que você sinta que está perdendo tempo. A vida é tão grande, tem tanta coisa lá fora. Vá viver! Não deixe de se divertir, de fazer o que te faça feliz. Só não saia por aí tocando o foda-se e machucando outras pessoas: isso não vai te fazer bem.

Meu corpo está morrendo. Minha memória fica um pouquinho mais fraca a cada dia que passa. Não tenho mais a força física que eu tinha. Não sei exatamente quando tudo começou. Se quando eu nasci, se há dez ou quinze anos. Vou tentar descobrir e te direi.

Desculpe te contar assim, pela internet, de forma tão impessoal. Mas eu precisava te contar. Você sabe, não sou muito boa com as palavras faladas. Sempre me dei melhor com a caneta.

Sinto muito dizer isso, mas você que me ama vai sofrer. Vai ficar triste, vai chorar e vai passar. E eu quero que você sofra. Por um dia ou um mês ou um ano. Mas não deixe de sofrer, de viver o luto, não negue sua dor, ou ela te acompanhará pelo resto da vida. Eu não quero isso, porque eu gosto de você: lembre-se sempre disso.

E eu sei que a dor passa! Eu estou dizendo que passa, confia em mim. É só você fazer tudo direitinho: viva o luto. No seu tempo, no seu ritmo, mas viva. Porque, aí, quando ele passar (e vai passar mais rápido do que você imagina), não vou ser mais dor. Vou ser uma lembrança que vai te deixar alegre. Com saudade, talvez. Mas saudade é legal!

Quanto a mim, estou feliz! Acabei de nascer. Estou aprendendo a viver. Mas viver de verdade, sabe? Com paixão e compaixão. Vou errar muito ainda e vou pedir desculpas, vou pedir ajuda. Também vou acertar. Nunca mais vou deixar pra depois. Aquele depois sem dia nem hora, que acaba se perdendo no tempo e nunca é feito.

Vou fazer a revolução! Com toda dedicação e paixão, que nunca serão suficientes, eu sei. Mas vou dar o melhor de mim – mente, coração e corpo.

Vou conviver mais com você. Gosto de você. Se sua companhia me agrada, quero passar mais tempo ao seu lado. Quero que você também se sinta um pouquinho mais feliz quando estiver comigo.

Quero escrever meu livro. Tantas ideias na cabeça, tantos textos guardados que ninguém lê. Meus amigos ou minhas amigas designers, alguém pode fazer uma capa bem bonita? É presente, tá? Não vou pagar. Use este texto como inspiração e faça o que quiser. Confio em você. Vai ficar linda!

Vou viajar mais. Faz tanto tempo que não vou à praia, e eu adoro praia. Quer vir comigo? Se não der, vou sozinha. Outra hora a gente arruma tempo e vai junto. Inclusive, quero mesmo fazer algumas viagens sozinha, conhecer pessoas. Vou viajar mais para o sul. Não é só por saber que vocês me amam e que aí estou segura que eu tenho que me acomodar, né? Quero estar mais perto de vocês durante o tempo que me resta.

Vou ler mais livros, vou estudar, vou finalmente aprender a tocar violão. Vou praticar mais esportes. Vou cuidar mais de mim. Vou tirar de mim todo sentimento de culpa.

Vou dizer que sou ou estou a fim de você sem esperar resposta alguma. É claro que se vier um sim vou ficar feliz. E ó: isso não significa que eu queira ficar com você para o resto da vida. Pode ser só um beijo ou uma trepada.

Não vou mais tomar aqueles porres homéricos. Quero estar consciente de cada coisa que fizer daqui para frente. Vou tomar uma cerveja e escrever, escrever, escrever... De vez em quando, vou parar para dançar sozinha no meio da sala. Vou dançar sem saber dançar. Vou cantar sem saber cantar. Vou olhar para as flores. Vou ver a cor do céu.

Ainda vou ficar triste muitas vezes. A tristeza faz parte da vida. Da vida, não da morte. Quando eu morrer, nada mais vai existir em mim.

Talvez, você morra antes de mim. Isso vai ser horrível! Vou ficar triste, muito triste mesmo. Vou viver o meu luto (não vou repetir o que já te aconselhei a fazer, vou fazer exatamente o mesmo).

Muitas pessoas ainda vão me magoar talvez. Algumas sem querer, outras vão tentar de propósito. Mas eu não guardo mágoas e não fico remoendo sentimentos ruins. Eu perdoo. Não o perdão cristão. Sabe por quê? Por egoísmo mesmo: o perdão é para mim, não para o outro. É para eu ficar bem comigo mesma.

Vou dizer a verdade sempre, mesmo que você não goste. Não se preocupe, vou tentar ser cuidadosa e sensível, pois não quero te machucar. Quero, humilde e sinceramente, te ajudar e não te destruir.

Em compensação, vou dizer que te amo e o quanto você é importante pra mim. Vou contar as coisas boas que você fez por mim e talvez nem saiba. Você precisa saber que você é bom! Também vou te agradecer. Vou emprestar meu colo sempre que você precisar. Vou pedir o seu às vezes.

Vou tirar da minha vida o que não é importante, o que é superficial e mesquinho. Vou parar de brigar por coisas pequenas. Vou fingir que não ouvi. Não quero nada mais ou menos. Prefiro ficar com o nada, porque aí eu posso pôr um tudo no lugar.

E quando nada mais em mim existir, espero que algo de mim exista. Pode ser pretensão, mas quero que você se lembre de mim como alguém que, algum dia, fez alguma diferença e acrescentou algo à sua vida. Mesmo que tenha sido só um papo besta num boteco. Se você se divertiu comigo, está bom.

Agora, vou indo. Assim como você, tem um monte de coisas me esperando lá fora. Não sei quanto tempo ainda tenho de vida. Um dia? Cinquenta anos? Ninguém sabe. Por isso, quero realizar o máximo possível.

Por último, quero fazer um pedido, mesmo que seja o último. Não comece a sofrer agora. Espere eu morrer para ficar triste. Eu não sei quando isso vai acontecer. Em vez disso, venha viver comigo enquanto dá tempo?


Escrito em 25/9/2015

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