segunda-feira, 17 de setembro de 2018

POR LU CANDIDO :: 
Há exatos 19 anos, minha avó morria. Eu tinha 19 anos. Ela, 83. Morreu de repente, sem aviso prévio, sem doença, sem preparar ninguém. Eu lembro todo ano, mas acho que é a primeira vez que publico de verdade alguma coisa sobre isso.


Sinto saudade dela, uma saudade boa. Naqueles tempos, não tinha escolinha para crianças de seis meses. Foi com ela que cresci. Todos os dias, a mesma rotina: meus pais me largavam na casa dela de manhã e me buscavam à noite. Depois, fomos morar todos juntos, quando eu tinha oito anos...

Sinto outras coisas: vergonha e culpa pelas vezes que briguei com ela. Mas eu não era a adulta que sou hoje. Era uma criança fiasquenta e birrenta. Depois, uma adolescente rebelde. Por fim, uma quase adulta que deitava no colo dela pra ver novela. Que dormia na casa dela e deixava ela comer linguiça e ovos fritos escondida da minha mãe. E juro que não foi disso que ela morreu.

Muitos anos depois, entendi que a sua morte marcaria a minha vida para sempre: foi o primeiro gatilho de que tenho consciência. Talvez por isso minha relação com a morte hoje em dia seja tão... saudável, eu diria. Temos que falar sobre a morte. Depois.

Aí embaixo, um texto que escrevi em 2010.

Meu primeiro encontro com a morte
– Vem pra casa.

– O que houve?

– A vó passou mal.

A voz da minha irmã do outro lado da linha não deixou nenhuma esperança de que minha avó estivesse viva. Intuição. Saí do trabalho e corri pelas ruas do centro da cidade, atropelando todo mundo, até chegar ao ônibus.

Não consigo descrever o que senti. Era o dia 2 de setembro de 1998. Uma segunda-feira típica de primavera. Eu sentia frio, pois tinha passado a noite em claro trabalhando.

Meu choro era de desespero, e eu não fazia nenhuma questão de esconder, como se não houvesse ninguém à minha volta.

Naquele momento, só me importava chegar. Entrei no ônibus. Encontrei um menino que eu tinha ficado um dia antes. Eu queria tanto vê-lo de novo, mas agora... Ele me chamou para sentar ao seu lado, tentou entender o que estava acontecendo, mas eu não queria conversar. Não pensava em nada e já não me importava com ele.

Os trinta minutos do trajeto não passavam. Quando finalmente chegou o meu ponto, desci correndo. Entrei no pátio de casa, e lá estava minha mãe chorando. Não foi preciso dizer mais nada.

E assim foi minha primeira grande perda. Eu estava, então com 19 anos.

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