Já aconteceu com você de acordar e não querer sair da cama? Pensar em todas as coisas que você tem de fazer ou que gostaria de fazer e nada, nada mesmo, nem a necessidade de comer e ir ao banheiro faz você sair dali?
Hoje foi um desses dias. Hoje no caso é ontem. Na verdade, já é anteontem, porque eu escrevi o texto ontem, que já tinha passado da meia-noite (gostei, ficou meio metafísico isso). Quem liga para datas, né? Deprê não marca encontro. Tudo que eu queria era ser a mulher toupeira, só que sem as outras toupeiras*, e passar meus próximos 15 anos num bunker, embaixo da terra, fazendo nada ou simplesmente girando uma manivela. Nada, absolutamente nada que eu pensava era suficientemente convincente para me tirar dali.
Queria escrever um artigo para o trabalho sobre a história do 1° de Maio, Dia do Trabalhador. Depois, escreveria para a minha página, aproveitando a data, explicando por que as doenças psicossociais (ato falho: eu queria dizer psicoemocionais) se transformaram na terceira causa de adoecimento laboral (bom tema para os dias atuais, não?). Então eu terminaria um cachecol, depois desenharia um pouco (sim, eu desenho), cozinharia e talvez assistiria a um filme para acabar a noite. Veja que sequer cogitei sair à rua. Mesmo assim, nada disso era maior do que a minha cama e a minha letargia. Eu estava dormindo há 13 horas.
Porém tem algo que não para: o trabalho. Uma opção era tocar o foda-se e não fazer nadinha de nada. Aí viriam as consequências. E olha que eu tenho o privilégio, hoje, de trabalhar num lugar superbacana com pessoas compreensíveis e solidárias (e mesmo elas podem perder a paciência a qualquer momento). Já fui demitida por causa da doença. Mas tem uma consequência que me derrubaria mais do que qualquer outra, mais do que perder o emprego: a culpa, maldita culpa.
Que fazer?
Quando ficamos assim, não é só uma questão de não querer. É não poder (já falei sobre). É como ter que responder a uma mensagem superimportante e ver que só tem 5% de bateria no celular. A luz da tela fica fraca, o wi-fi não funciona direito... Aí você tem que decidir se responde qualquer coisa rápido ou se diz que a bateria está acabando e vai responder depois. É assim que funcionamos nesses momentos. Falta energia.
Não foi a primeira vez nem será a última. Não sou a única. Então, repeti como um mantra “eu tenho que fazer, eu tenho que fazer”. Como um robô, levantei, liguei o computador e fiz o básico. (Isso é mentira! Só levantei da cama porque minha bexiga ia explodir se eu não fizesse xixi. E alguém me imagina mijando na cama? Never! Mas o importante é que...) Não fiz o que eu queria, mas fiz algumas tarefas executivas, que não precisava pensar muito. Era melhor que nada. Aí eu já devia estar com uns 15% de bateria
Uma coisa foi levando a outra. Isso me levou a “preciso comer”. Ainda meio no automático, preparei o que dava menos esforço e comi. Não tenho nem coragem de descrever a gororoba. Peguei meus agora 20% de bateria e voltei para o computador. Fiz mais umas coisinhas de trabalho. O carregador parou de funcionar, e, consciente da culpa, virei uma mulher toupeira.
Dia seguinte, a mesma sensação. Depois de dez horas dormindo, queria continuar dormindo. Então falei brava para mim mesma, em voz alta: “Chega! Levanta agora desta cama e vai fazer o que tem que fazer, seja lá o que for” (e era coisa pra caralho, nem fiz). O mais engraçado é que quando decidi, conscientemente, virar uma mulher toupeira, a culpa foi embora. Marquei data e hora para abrir o bunker e me salvar.
Se eu queria fazer? Claro que não! Mas fui lá e fiz assim mesmo. Saldo do dia: uma tarde inteira para fazer um texto muito simples e duas revisões, além da atualização da página (isso conta muito). Parece pouco, mas só nós sabemos o progresso que é.
* * * *
Eu sei que disse que não sou exemplo, que o que serve para mim pode não servir para outra pessoa. Mas uma coisa eu posso assegurar: PASSA. Essa palavra vai ser frequente aqui. A página podia até se chamar “Passa”. Quando tudo parecer não fazer sentido algum, conte até dez ou mil. Vai passar. Pode durar um dia ou um ano. Mas vai passar.
Confia e cola em mim. Eu sei o que estou dizendo, seus 2% miseráveis! Mas isso já é tema para outro artigo...
*Referência à série Netflix “Unbreakable Kimmy Schmidt”. Prescrição do dia. E fique feliz. É besta pra caralho, mas você vai rir e aprender algumas coisas sobre a crise mundial (a parte da gentrificação é demais!).
Hoje foi um desses dias. Hoje no caso é ontem. Na verdade, já é anteontem, porque eu escrevi o texto ontem, que já tinha passado da meia-noite (gostei, ficou meio metafísico isso). Quem liga para datas, né? Deprê não marca encontro. Tudo que eu queria era ser a mulher toupeira, só que sem as outras toupeiras*, e passar meus próximos 15 anos num bunker, embaixo da terra, fazendo nada ou simplesmente girando uma manivela. Nada, absolutamente nada que eu pensava era suficientemente convincente para me tirar dali.
Queria escrever um artigo para o trabalho sobre a história do 1° de Maio, Dia do Trabalhador. Depois, escreveria para a minha página, aproveitando a data, explicando por que as doenças psicossociais (ato falho: eu queria dizer psicoemocionais) se transformaram na terceira causa de adoecimento laboral (bom tema para os dias atuais, não?). Então eu terminaria um cachecol, depois desenharia um pouco (sim, eu desenho), cozinharia e talvez assistiria a um filme para acabar a noite. Veja que sequer cogitei sair à rua. Mesmo assim, nada disso era maior do que a minha cama e a minha letargia. Eu estava dormindo há 13 horas.
Porém tem algo que não para: o trabalho. Uma opção era tocar o foda-se e não fazer nadinha de nada. Aí viriam as consequências. E olha que eu tenho o privilégio, hoje, de trabalhar num lugar superbacana com pessoas compreensíveis e solidárias (e mesmo elas podem perder a paciência a qualquer momento). Já fui demitida por causa da doença. Mas tem uma consequência que me derrubaria mais do que qualquer outra, mais do que perder o emprego: a culpa, maldita culpa.
Que fazer?
Quando ficamos assim, não é só uma questão de não querer. É não poder (já falei sobre). É como ter que responder a uma mensagem superimportante e ver que só tem 5% de bateria no celular. A luz da tela fica fraca, o wi-fi não funciona direito... Aí você tem que decidir se responde qualquer coisa rápido ou se diz que a bateria está acabando e vai responder depois. É assim que funcionamos nesses momentos. Falta energia.
Não foi a primeira vez nem será a última. Não sou a única. Então, repeti como um mantra “eu tenho que fazer, eu tenho que fazer”. Como um robô, levantei, liguei o computador e fiz o básico. (Isso é mentira! Só levantei da cama porque minha bexiga ia explodir se eu não fizesse xixi. E alguém me imagina mijando na cama? Never! Mas o importante é que...) Não fiz o que eu queria, mas fiz algumas tarefas executivas, que não precisava pensar muito. Era melhor que nada. Aí eu já devia estar com uns 15% de bateria
Uma coisa foi levando a outra. Isso me levou a “preciso comer”. Ainda meio no automático, preparei o que dava menos esforço e comi. Não tenho nem coragem de descrever a gororoba. Peguei meus agora 20% de bateria e voltei para o computador. Fiz mais umas coisinhas de trabalho. O carregador parou de funcionar, e, consciente da culpa, virei uma mulher toupeira.
Dia seguinte, a mesma sensação. Depois de dez horas dormindo, queria continuar dormindo. Então falei brava para mim mesma, em voz alta: “Chega! Levanta agora desta cama e vai fazer o que tem que fazer, seja lá o que for” (e era coisa pra caralho, nem fiz). O mais engraçado é que quando decidi, conscientemente, virar uma mulher toupeira, a culpa foi embora. Marquei data e hora para abrir o bunker e me salvar.
Se eu queria fazer? Claro que não! Mas fui lá e fiz assim mesmo. Saldo do dia: uma tarde inteira para fazer um texto muito simples e duas revisões, além da atualização da página (isso conta muito). Parece pouco, mas só nós sabemos o progresso que é.
* * * *
Eu sei que disse que não sou exemplo, que o que serve para mim pode não servir para outra pessoa. Mas uma coisa eu posso assegurar: PASSA. Essa palavra vai ser frequente aqui. A página podia até se chamar “Passa”. Quando tudo parecer não fazer sentido algum, conte até dez ou mil. Vai passar. Pode durar um dia ou um ano. Mas vai passar.
Confia e cola em mim. Eu sei o que estou dizendo, seus 2% miseráveis! Mas isso já é tema para outro artigo...
*Referência à série Netflix “Unbreakable Kimmy Schmidt”. Prescrição do dia. E fique feliz. É besta pra caralho, mas você vai rir e aprender algumas coisas sobre a crise mundial (a parte da gentrificação é demais!).
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