segunda-feira, 30 de março de 2020

POR MICHELE ROCHA ::
Há um ano e cinco meses, minha família passou por um verdadeiro caos. Um dos meus afilhados e sobrinho, na época com sete anos, sofreu um AVC. Um dia vou escrever essa história, mas hoje só vou usá-la para tentar explicar um sentimento. Estes momentos avassaladores nos proporcionam encontros com a nossa vulnerabilidade e a incerteza.

Aquele novembro foi o mais difícil da minha vida, sofrendo e vendo quem eu amo sofrer. Mas também, foi uma oportunidade de entender algo importante: precisamos uns dos outros. Principalmente quando tudo parece desmoronar. Pessoas que escutem ou que respeitem seu silêncio, mas que deixem claro que vão estar com você, nem que seja para enviar algo engraçado quando seu coração estiver doendo. Eu tive isso. Que sorte ou que bom que cultivei afeto. Mas também tive a certeza de que algumas pessoas são amigas sim, mas para uma mesa de bar, uma festa ou para um grupo bizarro de whats.

Nunca imaginaria que, tempos depois a maioria das pessoas do planeta sentiriam o que eu senti quase ao mesmo tempo. Nem nas minhas histórias malucas que escrevo, pensei em um vírus devastador para mostrar as fragilidades da humanidade.

Estamos inseguros, tristes e com medo.

Particularmente, ando com o emocional muito abalado. Os que podemos (todos deveriam poder) ficar em casa somos bombardeados com muita informação. Não só dados assustadores, mas também fake news e falta de consciência. Por sorte ou azar, me preocupo com quem não tem nada e choro, me sinto perdida e impotente.

Como se não bastasse, me vejo como uma inútil por não fazer quinze cursos online, yoga, novas receitas ou exercícios em casa.

Mas cuido para não ter ataques de ansiedade, afinal, não dá para se cobrar tanto em um momento como esse, né?

Já me sinto aliviada quando vejo meus pais seguros, assim como outros idosos que conheço. Aí, só quero consumir conteúdo que me faça esquecer dessa merda toda, nem que seja por uma hora, e tomar uma boa taça de vinho quando termina o dia.

Não sofro por estar em casa, sempre gostei. Mas não ter contato físico com os outros me deixa com um aperto no peito. Sou fã de bons abraços.

Penso exageradamente, sempre fui assim. Então, não conseguiria passar por isso sem algumas e alguns que, mesmo que não fisicamente, estão ao meu lado. Foi num papo com uma dessas pessoas que entramos em nossas famosas filosofias de boteco e chegamos à conclusão de que, quando tudo isso acabar, o mundo não vai mais ser o mesmo. Não só o planeta, mas o universo de cada um. Seremos pessoas mais fortes, mais certas do que é importante em nossas vidas e quem queremos dentro dela.

Na minha não tem mais espaço para aqueles que não têm empatia. Que não cultivam seus afetos. Quero aqueles que dizem: está foda, mas estou aqui. No fundo é só disso que precisamos, saber que não estamos sós.

Esse texto não tem nenhum embasamento científico, está mais para um desabafo mesmo. Por isso, proponho uma reflexão. Perguntem a vocês mesmos quem está com vocês.

Quem manda aquela mensagem para saber como você está? Quem escuta de verdade e não pergunta só por educação? Quem enxerga você? Como escreveu Hemingway: Quem estará nas trincheiras ao seu lado?


Michele Rocha é amante das filosofias de bar e das boas histórias. Publicitária de segunda a sexta, curiosa e confusa todos os dias do ano. Sigam ela no Insta: @mirock01





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