POR LU CANDIDO :: No texto “Luto: presa no limbo infinito”, expressei como estava me sentindo quanto à ruptura com a minha psiquiatra, que me tratava há cinco anos. A construção da relação psiquiatra-paciente é um trabalho muito profundo. Quando feito direito. Infelizmente, não é o que costuma acontecer, e uma consulta pode transformar-se num evento trágico ou, quando você consegue superar, cômico.
Em casos como o meu, quando já se tem um diagnóstico, um CID (Código Internacional de Doenças), o padrão é você entrar no consultório e, assim que você informa isso ao médico, ele passa a tratar como uma doença qualquer. “Tem alergia a alguma medicação?”, pergunta enquanto preenche a receita. “Volte daqui um mês”, e você vai embora. Só que as doenças mentais são um pouco mais complexas.
No meu caso, por exemplo, o tratamento precisa acompanhar meu humor. Além disso, o médico precisa saber de sua vida: o que você faz, se estuda, se trabalha, se está em um relacionamento, enfim, sua história. Ele tem que entrevistar você, porque os fatores socioambientais são muito importantes para a manutenção da saúde mental. Isso não se faz em dez minutos.
O médico que diagnosticou o TAB (transtorno afetivo bipolar) em mim, lá em Porto Alegre, era ótimo. Minha psicóloga da época o indicou. Ele passou semanas investigando, me questionando e observando até bater o martelo. Mas me mudei para São Paulo e aí... teve de tudo, inclusive um período sem tratamento nenhum. Não por negacionismo, mas porque simplesmente cansei. Até surtar.
Houve um médico que me perguntou qual medicação eu tomava enquanto preenchia a receita. Não só: ele perguntou as dosagens. Eu: “O senhor quer que eu preencha? O senhor pode só assinar, é mais fácil”. Eu disse isso só na minha cabeça, porque precisava muito das receitas e não queria que ele me corresse de lá.
Outra vez, eu estava na sala de espera lotada de um consultório quando uma mulher apareceu e perguntou: “Quem são vocês?” A voz dela era grave, alta e dava medo. Ninguém respondeu, imagino que por não saber o que dizer. Pelo menos esse foi meu caso. Até que alguém timidamente disse: “Tenho hora com a dra. Fulana”. A mulher sem alterar o tom de voz: “Sou eu. Vocês têm que ir embora. Vão dedetizar o prédio”. Virou as costas e saiu. Pode rir sem culpa.
Teve uma médica com quem me tratei alguns anos. Eu gostava dela, principalmente porque me liberou do lítio. Sim, eu pensava que isso era bom e não me orgulho disso. Foi ignorância da minha parte. É o principal regulador de humor, melhor neuroprotetor, mas também é o mais estigmatizado. Enfim, tudo ia bem até o dia em que ela teve um surto (real) no consultório. Começou a gritar que meu problema era “as pessoas com quem eu andava” [?]. Nunca mais voltei, mas antes garanti que ela fizesse seu trabalho e me desse as receitas. A última notícia que tive dela me leva a crer que esteja acampada na frente de algum quartel.
Essas são só algumas das coisas que vivi. Tenho certeza que não sou a única, que algum de vocês já passou por algo parecido. Sou curiosíssima com isso! Me conta!
queriaserpsicologa@gmail.com
Foto: Karolina Grabowska
Em casos como o meu, quando já se tem um diagnóstico, um CID (Código Internacional de Doenças), o padrão é você entrar no consultório e, assim que você informa isso ao médico, ele passa a tratar como uma doença qualquer. “Tem alergia a alguma medicação?”, pergunta enquanto preenche a receita. “Volte daqui um mês”, e você vai embora. Só que as doenças mentais são um pouco mais complexas.
No meu caso, por exemplo, o tratamento precisa acompanhar meu humor. Além disso, o médico precisa saber de sua vida: o que você faz, se estuda, se trabalha, se está em um relacionamento, enfim, sua história. Ele tem que entrevistar você, porque os fatores socioambientais são muito importantes para a manutenção da saúde mental. Isso não se faz em dez minutos.
O médico que diagnosticou o TAB (transtorno afetivo bipolar) em mim, lá em Porto Alegre, era ótimo. Minha psicóloga da época o indicou. Ele passou semanas investigando, me questionando e observando até bater o martelo. Mas me mudei para São Paulo e aí... teve de tudo, inclusive um período sem tratamento nenhum. Não por negacionismo, mas porque simplesmente cansei. Até surtar.
Houve um médico que me perguntou qual medicação eu tomava enquanto preenchia a receita. Não só: ele perguntou as dosagens. Eu: “O senhor quer que eu preencha? O senhor pode só assinar, é mais fácil”. Eu disse isso só na minha cabeça, porque precisava muito das receitas e não queria que ele me corresse de lá.
Outra vez, eu estava na sala de espera lotada de um consultório quando uma mulher apareceu e perguntou: “Quem são vocês?” A voz dela era grave, alta e dava medo. Ninguém respondeu, imagino que por não saber o que dizer. Pelo menos esse foi meu caso. Até que alguém timidamente disse: “Tenho hora com a dra. Fulana”. A mulher sem alterar o tom de voz: “Sou eu. Vocês têm que ir embora. Vão dedetizar o prédio”. Virou as costas e saiu. Pode rir sem culpa.
Teve uma médica com quem me tratei alguns anos. Eu gostava dela, principalmente porque me liberou do lítio. Sim, eu pensava que isso era bom e não me orgulho disso. Foi ignorância da minha parte. É o principal regulador de humor, melhor neuroprotetor, mas também é o mais estigmatizado. Enfim, tudo ia bem até o dia em que ela teve um surto (real) no consultório. Começou a gritar que meu problema era “as pessoas com quem eu andava” [?]. Nunca mais voltei, mas antes garanti que ela fizesse seu trabalho e me desse as receitas. A última notícia que tive dela me leva a crer que esteja acampada na frente de algum quartel.
Essas são só algumas das coisas que vivi. Tenho certeza que não sou a única, que algum de vocês já passou por algo parecido. Sou curiosíssima com isso! Me conta!
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