POR LU CANDIDO ::
Ela estava na cozinha. Escrevia enquanto esperava o frango assar e o arroz secar. Não era uma dona de casa, não queria ser. Eram 19h30, e estava farta. Não por estar cozinhando, mas pela simbologia por trás disso. Servir, servir, servir. Não seria ruim em outro contexto. Seria bem legal talvez. Sentia aquele mal-estar de quem pensa demais, e escrever era seu escape.
LEIA: As malas (parte 1)
Sentia que as coisas andavam devagar. Havia dado mais uma chance, mas até quando? Fantasiou, ficou insegura, pôde sentir e tocar o pior de si. Aquele mal-estar era a iminência não do fim, mas do momento da escolha. Ninguém podia fazer isso por ela. As malas ainda estavam feitas.
Vinícius de Moraes errou. E errou feio. Não só é possível ser feliz sozinho como é necessário e imprescindível. O ser que não é capaz de se amar e de se reconhecer enquanto indivíduo, não é capaz simplesmente de amar. Não ama o amigo, não ama seu parceiro, não ama ninguém. Vai sempre buscar algo mais. Na verdade, aquilo que ele mesmo não tem.
Um relacionamento é feito por indivíduos, cada um com sua história, seus desejos, seus sonhos e sua felicidade próprios. Jamais por duas metades que se unem para se transformar num único ser. Isso é o que nos ensinaram nos contos de fadas, nas novelas, nos filmes. É o amor romântico imposto e opressor. Mas a vida real é dura e cruel. Isso porque não conseguimos perceber o óbvio.
É muito difícil se desvencilhar de séculos e séculos de uma imposição social, cultural e econômica. Aqueles que tentam sofrem e sentem dor, como ela. Agora andava triste, reflexiva, melancólica, saudosista, chorando à toa. Estava dividida entre a dor da perda de alguém que aprendera a amar e a possibilidade de se resgatar, de reaprender a se amar, de descobrir que sobrevivera àquela armadilha emocional. Gostaria muito de se redescobrir sem precisar perder, mas não era mais possível.
Eles cometeram o mais básico e estúpido dos erros: apaixonaram-se por pessoas que só existiam em suas cabeças. Idealizaram a relação. Não contaram com a rotina modorrenta das contas a pagar, das compras a fazer, da ordem a manter. Não contaram com o fato de que poderia não haver sexo todos os dias. Não contaram com os desejos individuais de cada um. Não entenderam isso e condenaram sua relação ao fracasso. Um virou o espelho do outro, esperavam reações e atitudes que nunca aconteceriam, pois o outro é o outro. E só.
Sim, ela acreditava que decisões importantes levam tempo e reflexão para serem tomadas. Mas ela também sabia que as decisões não podem ser adiadas para sempre. O tempo não perdoa e não nos permite revisitá-lo.
Estava na hora de desfazer as malas.
Em outro lugar.
LEIA: As malas (parte 1)
Ela estava na cozinha. Escrevia enquanto esperava o frango assar e o arroz secar. Não era uma dona de casa, não queria ser. Eram 19h30, e estava farta. Não por estar cozinhando, mas pela simbologia por trás disso. Servir, servir, servir. Não seria ruim em outro contexto. Seria bem legal talvez. Sentia aquele mal-estar de quem pensa demais, e escrever era seu escape.
LEIA: As malas (parte 1)
Sentia que as coisas andavam devagar. Havia dado mais uma chance, mas até quando? Fantasiou, ficou insegura, pôde sentir e tocar o pior de si. Aquele mal-estar era a iminência não do fim, mas do momento da escolha. Ninguém podia fazer isso por ela. As malas ainda estavam feitas.
Vinícius de Moraes errou. E errou feio. Não só é possível ser feliz sozinho como é necessário e imprescindível. O ser que não é capaz de se amar e de se reconhecer enquanto indivíduo, não é capaz simplesmente de amar. Não ama o amigo, não ama seu parceiro, não ama ninguém. Vai sempre buscar algo mais. Na verdade, aquilo que ele mesmo não tem.
Um relacionamento é feito por indivíduos, cada um com sua história, seus desejos, seus sonhos e sua felicidade próprios. Jamais por duas metades que se unem para se transformar num único ser. Isso é o que nos ensinaram nos contos de fadas, nas novelas, nos filmes. É o amor romântico imposto e opressor. Mas a vida real é dura e cruel. Isso porque não conseguimos perceber o óbvio.
É muito difícil se desvencilhar de séculos e séculos de uma imposição social, cultural e econômica. Aqueles que tentam sofrem e sentem dor, como ela. Agora andava triste, reflexiva, melancólica, saudosista, chorando à toa. Estava dividida entre a dor da perda de alguém que aprendera a amar e a possibilidade de se resgatar, de reaprender a se amar, de descobrir que sobrevivera àquela armadilha emocional. Gostaria muito de se redescobrir sem precisar perder, mas não era mais possível.
Eles cometeram o mais básico e estúpido dos erros: apaixonaram-se por pessoas que só existiam em suas cabeças. Idealizaram a relação. Não contaram com a rotina modorrenta das contas a pagar, das compras a fazer, da ordem a manter. Não contaram com o fato de que poderia não haver sexo todos os dias. Não contaram com os desejos individuais de cada um. Não entenderam isso e condenaram sua relação ao fracasso. Um virou o espelho do outro, esperavam reações e atitudes que nunca aconteceriam, pois o outro é o outro. E só.
Sim, ela acreditava que decisões importantes levam tempo e reflexão para serem tomadas. Mas ela também sabia que as decisões não podem ser adiadas para sempre. O tempo não perdoa e não nos permite revisitá-lo.
Estava na hora de desfazer as malas.
Em outro lugar.
LEIA: As malas (parte 1)
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