quinta-feira, 3 de outubro de 2019

POR QSPMSP :: 

O Queria ser Psicóloga mas sou Paciente completou um aninho de vida no dia 3 de outubro. Não foi consciente, mas este aniversário na sequência do Setembro Amarelo é bastante simbólico. Tem um quê de sobrevivência, de ressignificação.

Este blog demorou muito pra nascer. Ele já tinha página no Facebook antes de existir. Tinha umas 300 curtidas, mas estava lá. Aí, lancei o blog. Lembro que comemorei muito quando a página chegou em 1.000 curtidas. Corri a contar para a minha psicóloga. Eu imaginava que teria umas 500, 600 curtidas, então estava ótimo!

Teve uma noite em que eu estava trabalhando para conseguir deixar o blog apresentável e já estava bem cansada e começou a tocar Alanis Morissette, “Hand in my pocket”. Não consegui parar de ouvir. Instituí que aquela seria a música do blog. Nada mais certo, e ela continua sendo: Estou dura mas feliz/ Sou pobre mas gentil.../ Estou perdida mas tenho esperança, querido”.

E aqui estamos nós. Alguns milhares de leitores, participamos do Setembro Amarelo com material próprio, Instagram que funciona, temos até cartão de visita. E 47 mil curtidas no Facebook até o momento em que eu fechava este texto.

Enfim, como eu ia dizendo lá em cima... (Espera, estou chorando. Sou meio mole, mas é que passei por muita coisa para chegar aqui.)

Como eu ia dizendo, tem muito significado para mim este blog. Houve um momento, há anos, em que eu me vi obrigada a tomar uma decisão muito difícil. Havia uma solução rápida: em alguns minutos, estaria tudo acabado, não haveria mais problemas, nunca mais. E havia a saída mais complicada: eu teria que confiar numa solução incerta e trabalhar por ela; envolvia dor, perdas e solidão. Eu estava cansada, muito cansada.

Escolhi a segunda, e hoje eu tenho um blog. Entendi que não podia lutar contra a doença, porque eu não podia vencê-la. Tudo o que eu tinha de fazer era aprender a conviver com ela, domestica-la, sabendo que às vezes eu ia levar umas surras. Então, transformei a minha dor em algo que pudesse ser útil – não só para mim.

É isso que eu faço, estudo, faço testes, descubro coisas, desenvolvo meus mecanismos de enfrentamento e minhas técnicas de sobrevivência e compartilho. Mas eu não sou só uma pessoa com uma doença. Eu também tive uma vida bem agitada e tenho histórias interessantes para contar que não têm nada a ver com o transtorno. Algumas têm e eu nem sabia. Uma vez eu comprei um carro voltando da balada bêbada. Bom, isso não vem ao caso.

Eu dizia que queria mostrar como as pessoas com transtorno – em especial o bipolar, que é o meu – vivem e como suas vidas podem ser normais. O blog seria um espaço para compartilhar histórias de todos os tipos, que tivessem a ver com doença ou não, afinal, estamos no mundo.

Falar de saúde mental é falar sobre ter que tomar remédios, sintomas, perdas, mas também é falar sobre relacionamentos, amigos, pequenas histórias da vida cotidiana, músicas, filmes. É rir quando tem que rir, chorar quando tem que chorar, e sempre saber que a dor tem hora para acabar. É falar sobre qualquer coisa que valha a pena ser compartilhada.

Um ano comprido, largo e profundo
Foi um ano bem conturbado – parece que foram dez. O lançamento já foi em meio à insanidade do processo eleitoral, que estava deixando as pessoas doentes. E nos posicionamosUns meses depois, enfrentei uma crise sem precedentes e precisei me isolar por um tempo (outra hora eu conto, quer dizer, alguém quer saber sobre isso?). Ficou tudo meio parado. Tive medo de perder meus colaboradores, mas ganhei mais uma.

Comecei a frequentar grupos de apoio mútuo. Antes de entrar nos grupos, eu tinha a impressão de que seria um lugar onde eu poderia falar para pessoas como eu, e elas entenderiam o que se passava comigo. É também, mas o que se tornou mais importante para mim foi a escuta. Coisas que eu achava que só aconteciam comigo ou que só eu sentia, de repente estavam saindo da boca de alguém que eu nunca tinha visto. Mais do que isso, estou conhecendo muitas pessoas e histórias diferentes que me apresentam outras perspectivas. Isso me dá lucidez e força.

Então consegui entender por que minha psicóloga incrível, a Silmara Gandolfi, insiste tanto em que eu escreva e publique há anos. Este projeto também é dela. Hoje eu entendo melhor o que eu estou fazendo aqui. Quero devolver pelo menos um pouco do que tenho ganhado, das histórias que escuto, das escutas que recebo. Se um dia este blog também tiver significado para mais gente, então terá cumprido de fato sua missão.

Não quero fazer isso sozinha, só com a minha experiência. Afinal, não é preciso ter um transtorno mental para ter boas histórias e reflexões para compartilhar. Recentemente, ganhamos mais uma colaboradora, a Michele Rocha. Bem-vinda, Mi! Aos meus colaboradores queridos – Camila Pedroso, Rodrigo Barrenechea, Walter M., Noah Machado –, vocês foram fundamentais para chegarmos até aqui. Sem vocês, o blog não teria andado, tenho certeza disso. Ele é de vocês também. As páginas estão aqui, esperando por vocês.

É um ano em construção, é verdade. Acho que nunca estaremos prontos, e que bom que é assim.


P. S.: Eu sou a Lu Candido






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