quarta-feira, 11 de setembro de 2019

POR QSPMSP :: 

O suicídio é uma epidemia que mata em silêncio. Infelizmente e apesar dos números, ainda é um tabu. É pesado e difícil, é verdade. Mas temos de encará-lo. Para isso, é preciso conhecer e entender.


Neste texto, trazemos algumas informações básicas sobre a campanha e sobre como apoiar alguém em situação de risco. É um começo e estamos abertos a escutá-lo e escutá-la. Usamos como fonte o Centro de Valorização da Vida (CVV), a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP – International Association for Suicide Prevention), a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e a própria campanha Setembro Amarelo.

O que é o suicídio
Suicídio é a ação de tirar a própria vida. São inúmeros fatores que podem levar alguém a este ato extremo: desespero, dívidas, perda do emprego, rompimento de uma relação, culpa, necessidade de pôr fim a uma dor aguda entre tantas outras coisas. Cerca de 98% dos casos estão relacionados a transtornos mentais, em especial depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e outras psicoses e dependência de substâncias, em particular de álcool.

A cada 40 segundos, uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase um milhão de suicídios por ano. No Brasil, o número está abaixo da média mundial: ocorrem de 6 a 7 suicídios a cada 100 mil habitantes no país. Porém isso está longe de ser um bom indicador. Ao contrário da média mundial, que permanece estável, a média do Brasil vem crescendo. Os jovens são os mais afetados.

Entre 10 e 20 milhões de pessoas tentam suicídio a cada ano. Pensar e até desejar a própria morte é um sentimento normal do ser humano relacionado aos impulsos. Contudo, há pessoas que planejam se matar. Algumas põem em prática. Destas, umas sobrevivem, e outras morrem.

O que nos dá esperança é que 90% dos casos podem ser evitados.

Como identificar um suicida
Suicidas quase sempre emitem sinais antes de executar a ação. O suicídio é um pedido de socorro, uma tentativa de acabar com uma dor ou com um sofrimento insuportável. Nem sempre é fácil perceber. Não se culpe e não alimente pensamentos do tipo “como eu pude não ver” caso uma pessoa próxima de você cometa suicídio.

Existem alguns comportamentos que servem de alerta. Como já vimos, o suicídio está associado principalmente às doenças mentais. A pessoa com potencial para se matar deixa pistas como comportamentos autodestrutivos, autoestima baixa, falta de vitalidade, senso autocrítico elevado, falta de esperança etc. É comum dizerem frases do tipo: “o mundo estaria melhor sem mim”; “eu não sirvo para nada”; “não sei o que estou fazendo aqui”; “eu sempre estrago tudo”.

Oferecer a sua escuta é uma ótima opção. Não importa o que você tem a falar nem se você vai falar. Apenas acolha. Não julgue, não critique, não faça comparações, não diga para a pessoa se animar: seja empático, se interesse pelo que ela tem a dizer. Lembre-se: não existe uma régua de medir dor. Tente mostrar a ela que não está só, que pode confiar e contar com você.

Há casos em que a pessoa verbaliza a vontade de morrer, às vezes, inclusive, dizendo de forma explícita que quer se matar. Nessas situações, não hesite: busque ajuda e não a deixe sozinha. Mantenha medicamentos e objetos cortantes longe do alcance. Tente evitar que a pessoa consuma álcool. Se necessário e se ela concordar, leve-a a um pronto socorro psiquiátrico ou a uma emergência em qualquer hospital.

Se você receber uma mensagem ou um telefonema com conteúdo que você acredita ser suicida ou ver um post numa rede social por exemplo, na dúvida, avise alguém ou chame ajuda. Não vacile em perguntar de forma objetiva à pessoa se ela está querendo se matar.

Em todos os casos, oriente a pessoa a buscar ajuda profissional. Ela também pode e deve ligar para o CVV (188), onde será atendida por um voluntário preparado para oferecer apoio emocional e preventivo. O serviço é gratuito e funciona 24 horas. O atendimento também é feito por chat, e-mail ou pessoalmente (ver horários no site).

Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização criada no Brasil em 2014 (oficializado em 2015) pelo Centro de Valorização da Vida (CVV ), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O mês foi escolhido porque o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

A cor amarela tem origem numa tragédia. Em 1994, um jovem dos Estados Unidos chamado Mike Emme se matou. Ele tinha um Mustang 68 que pintou de amarelo e era sua paixão. O jovem ficou conhecido como “Mike Mustang”. Em sua homenagem, seus amigos distribuíram cartões no funeral com fitas amarelas e a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda.”

Em nível mundial, o IASP impulsiona um forte movimento de conscientização e prevenção que vem quebrando barreiras. Nos próximos dias 17 a 21 de setembro, acontece o 30º congresso da organização com o tema “Derrubando muros, construindo pontes”. Entre os muitos pontos em debate, estão: “Suicídio no envelhecimento da população”; “Suicídio e autoagressão em jovens”; “Estigma, saúde mental e suicídio”; “Fatores de risco psicológico e social para comportamento suicida”; “Abordagens de saúde pública para prevenção de suicídio”.

Luto
Em cada suicídio, seis a dez pessoas são afetadas de forma direta.

Se falar em suicídio já é um tabu, imagine como é trabalhar o luto. É algo muito complexo e pouco estudado. Os amigos e familiares, não raro, ficam revoltados. Sentem que a pessoa morta os arrastou consigo, os condenou a um tipo de morte em vida. Há uma mistura de raiva e culpa, abandono e vergonha.

As fases do luto se misturam, os sentimentos ficam confusos. Se já não se falava em suicídio antes, a tendência é que se apague o assunto de vez. Esse caminho pode ser fácil a princípio, mas apenas prolonga a dor. O melhor sempre é falar. Por isso, é muito importante buscar o acompanhamento de um profissional de saúde que vai ajudar os que sobreviveram a elaborar o luto, entender a perda e seguir em frente.

Além do círculo da vítima, também são considerados sobreviventes todos os envolvidos, como prestadores de primeiros socorros, policiais, bombeiros etc. Se o paciente estava em tratamento, psicólogos e psiquiatras também são considerados. Esses também vivenciam luto e precisam de atenção.

Combater as doenças mentais também é prevenir
Temos de pensar no suicídio também como um problema de saúde pública em nível mundial e um problema social muito grave. Vivemos numa sociedade que nos adoece e nos abandona. Crise, desemprego, violência, falta de acesso à cultura, ao lazer, à educação e à saúde são fatores de risco.

A depressão já é a doença mais incapacitante no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Já o transtorno bipolar é a doença que mais causa suicídios. Assim, combater o preconceito e tratar as doenças mentais também é parte da prevenção do suicídio.

O preconceito só se cria onde há ignorância. É preciso discutir temas como doença mental e trabalho, doença mental e juventude, doença mental e violência de forma aberta na sociedade em geral e, em particular, nas camadas mais pobres, que são as mais afetadas e têm menos acesso a tratamento adequado. Não apenas discutir por discutir, mas para apontar alternativas ao sistema que temos hoje.

Há muita esperança
Este texto é uma pequena contribuição. Há muito mais informações a buscar, outras formas de ajudar. Por fim, lembre-se disso: se ainda assim o suicídio acontecer, não se culpe jamais.

Compartilhe com seus amigos, familiares, colegas. Podemos ampliar esta rede e dar outro rumo para a vida de pessoas que acreditam estar sozinhas por aí.


LIGUE: 188 CVV (Centro de Valorização da Vida)
O CVV oferece apoio emocional e prevenção do suicídio de forma voluntária e gratuita a todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.


** Atualizado em setembro de 2020. Este texto foi escrito em 2019. Não há informações sobre congresso do IASP em 2020.

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